Quem chega à Comunidade Bethânia, no Recanto de São João Batista (SC), é recebido pela beleza da natureza. Cercado pela Mata Atlântica, o local conserva uma das marcas mais significativas deixadas pelo fundador, o Servo de Deus Padre Léo: os jardins sempre floridos. No entanto, em Bethânia, cultivar flores vai muito além de um gesto estético. Cada semente plantada traduz um processo pedagógico e espiritual que espelha o próprio caminho de restauração dos filhos e filhas acolhidos.
Os jardins são expressão concreta da metodologia de vida e trabalho da Comunidade. Inspirados em Marta, uma das patronas de Bethânia, ao lado de Maria e Lázaro, eles representam o serviço e a confiança na Providência. Marta é lembrada como aquela que servia o Senhor (Lc 10,38-42; Jo 12,1). Na espiritualidade de Bethânia, seu exemplo convida cada membro, consagrado ou filho e filha, a transformar o espaço em um lugar de amor acolhedor, vida plena, restauração e cura interior.
Padre Léo ensinava que “a cura de Marta se dá na confiança” (Jo 11,27). Assim, cultivar um jardim se torna um exercício de fé e entrega: olhar as flores que brotam, os lírios e as aves do céu que confiam em Deus e são sustentados por Ele (Mt 6,25-34).
Mas o gesto de plantar também carrega uma dimensão pedagógica profunda. O trabalho com os jardins é proposto como parte do processo de desintoxicação dos acolhidos. O contato com a terra, o esforço físico, o suor e a sede auxiliam não apenas na eliminação de toxinas do corpo, mas também na purificação interior. O trabalho manual é oração em ação. Ele devolve o sentido do próprio valor e desperta a percepção de que cada pessoa é capaz de gerar beleza e vida a partir do cuidado.
Padre Léo costumava dizer que “é preciso rezar a vida”. Por isso, o carisma de Bethânia não é improvisado: é metódico e pedagógico. Metódico, porque segue um processo; pedagógico, porque ensina a viver de forma nova. O cultivo das flores foi escolhido exatamente pelo significado. As plantas florescem entre 30 e 45 dias. Tempo suficiente para que o filho acolhido acompanhe todo o processo, do plantio à floração. Essa espera ensina paciência, perseverança e o valor do tempo. Ver o jardim florescer torna-se um sinal concreto de que também a vida, cuidada com amor, pode voltar a florescer.
Padre Léo associava as flores à cura interior. Dizia que “do azedume da terra e do fedor do esterco, brota a beleza e o perfume da flor”. Assim deve ser o coração humano: mesmo marcado pela dor e pelas feridas, pode devolver beleza, suavidade e perfume ao mundo.
Entre as flores cultivadas, as rosas ganham destaque. Elas representam a condição humana: belas e delicadas nas pétalas, mas repletas de espinhos no caule. Os dons e carismas são as pétalas; as feridas e os pecados, os espinhos. Cuidar do jardim é, portanto, também cuidar de si, aprender a não ferir e a transformar dor em amor.
Nos jardins de Bethânia, cada planta é um testemunho silencioso de esperança. Neles, a pedagogia da terra se une à pedagogia do Evangelho. E, como as flores que desabrocham mesmo após as tempestades, os filhos e filhas acolhidos aprendem que a vida, quando cultivada com fé, também floresce novamente.
Por Cristiéle Borgonovo
Jornalista da Comunidade Bethânia
JP 05404