Guarapuava é hoje um dos únicos municípios brasileiros a promover o enfrentamento às drogas a partir da implantação de um departamento específico na estrutura da Secretaria Municipal de Assistência Social. Essa iniciativa chamou a atenção da administração nacional da Comunidade Betania, com matriz no município de São João Batista em Santa Catarina. Em busca do know-how de Guarapuava estão na cidade nesta quarta (06) o gestor geral da matriz, Anderson Garcia e a assistente social Kamily Gatis. Durante a manhã, acompanhados pelo administrador do núcleo de Guarapuava, Sandro Sestren, e pela responsável técnica Fabíola Borba, os catarinenses se reuniram com o secretário de Assistência Social, Abraham Haick, com o diretor do Departamento Giovani Caetano Jaskulski e equipe.
De acordo com Garcia, o trabalho desenvolvido em Guarapuava e o envolvimento da administração municipal não é encontrado em outros municípios. “Trabalhamos no Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e não vimos nenhum trabalho semelhante. E ver o que está acontecendo aqui é uma surpresa agradável, pois nunca vimos um trabalho tão bem constituído, tão bem integrado”. De acordo com o secretário de Assistência Social, Abraham Haick, a política de enfrentamento às drogas tem como base o trabalho em rede, envolvendo as demais secretarias municipais. “O nosso trabalho é articulado, intersecretarial, pois não se pode fazer um trabalho desse porte de forma isolada”, afirmou.
Para o diretor do Departamento, o psicólogo Giovani Caetano Jaskulski, o departamento é a “porta de entrada” para o tratamento. “No final da tarde de ontem, por exemplo, chegou um menino que já estava há mais de três meses sem vínculo familiar por causa de droga. Ele chegou aqui, pediu ajuda, encontrou a acolhida e disse que retornaria no inicio da tarde, mas não apareceu no horário combinado. No final da tarde apareceu bem limpo, com a mochila nas costas e pediu desculpa pelo atraso, pois tinha ido dar um abraço na mãe. Encaminhamos ele para uma das três comunidades terapêuticas que são nossas parceiras”, contou. Segundo Giovani, as comunidades contam com o apoio técnico de uma equipe multidisciplinar da Secretaria. ”Auxiliamos com psicóloga, assistente social, pedagoga, médicos, assistência jurídica”, lista Giovani.
DIFERENCIAL
“Desde que o Departamento de Políticas Públicas contra as Drogas foi criado em janeiro de 2013, a diferença já é sentida pelos coordenadores da Comunidade Betania em Guarapuava. “A ação planejada, a abordagem e a própria visão da acolhida já estão mudando a realidade dos internos”, diz Sandro Sestren, administrador da Comunidade Betania em Guarapuava.
Segundo ele, os cursos de qualificação oferecidos pelo Departamento melhorou a qualidade do atendimento permitindo que os internos não abandonem o tratamento. “Não havia perseverança”, observa.
Uma das iniciativas tomadas na Betania foi o fechamento da ala feminina. “Os homens ficavam num barracão. Mas com a pouca procura por parte das mulheres que deixam o tratamento por causa da prostituição, agora eles passaram para uma estrutura melhor e isso também faz a diferença”, comenta Sestren. A capacidade é para 12 pessoas.
O tratamento, a recuperação da auto estima baseado nas etapas de desintoxicação física, psico-afetiva e espiritual já tem resultados satisfatórios após os 11 meses de tratamento. “Já temos internos liderando comunidades terapêuticas”, diz Giovani.
EDITAL
Para que a experiência desenvolvida em Guarapuava seja implantada em outros municípios a administração geral da Betania vai concorrer a um edital proposto pela SENAD (Secretaria Nacional de Enfrentamento às Drogas). “Vamos ter como base o trabalho de Guarapuava para esse edital”, disse o gestor Anderson Garcia. O edital prevê recursos de R$ 6 mil por mês durante um ano. A ideia é a contratação de equipe multidisciplinar para trabalho nas comunidades, investimento que em Guarapuava é feito pela administração municipal.
